quarta-feira, 29 de abril de 2009

Momento de poesia


Te nomearei Pedro
e negarás o meu amor
em três mil luas
três mil sóis
três mil versos.

Enquanto negares,
cantarão galos,
rouxinóis
e corujas.

Tens a chave, mas não a usarás:
conservarás cerradas portas,
janelas
olhos
e bocas.

Chorarás e rirás com meus encantos e desencantos
com os três socos que levei na mesma semana.

Pedro, me perdoarás por ter oferecido
a outra face?

Toma, pois, esta oferenda.
Não conseguirás possuí-la impunemente.

Mas a mereces, porque foste o primeiro,
porque ousaste atender ao chamado,
porque reconheceste os sinais da Anunciação.

Maria Angélica

5 comentários:

  1. Olá Angélia,


    Adorei o seu trabalho, assim como vc a minha vida começou quando descobri o sentido da leitura e daí passei a ver o mundo com outros olhos... Vejo ainda que só a literatura tem essa mágia de encantar e desencantar o homem. Logo precisamos ler e lendo nos redescobrimos , para isso não existe tempo por ele é o senhor de todas as coisa.

    Parabéns por este lindo trabalho com a sensibilidade poética.


    Gedean

    ResponderExcluir
  2. Não serei pedro,
    muito menos porta
    que se feche
    da paixão
    aos estertores.

    Escancaro-me vil
    em bocas, gritos
    e orifícios tantos,
    rastejando-me
    na inventada dor
    fatal.

    (Não quero
    a outra face.
    Quero todas
    e todos
    os possíveis
    inimagináveis
    cenários sensuais)

    Rasgo-me o peito
    em imundo gesto
    teatrágico.
    Dou-te afinal
    em réplica
    esta poça rubra
    em que me estrebucho
    agonizante.

    E nos últimos suspiros
    dou-me ao desfrute
    ainda
    de rabiscar
    languidamente (epa!)
    na lustrosa base
    de porcelanato:

    OI, MONSTRA,
    ONDE TE ESCONDESTE
    QUE TE BUSCO HÁ SÉCULOS?...

    ResponderExcluir
  3. Henoch
    Te busco há muito tempo
    em cada homem sério(?)
    atrás dos óculos e do bigode.
    geo.madureira@bol.com.br

    ResponderExcluir
  4. CRONOS

    Entre nós há o tempo.
    Tempo de Calíope.

    Que resgata
    escadas barulhentas
    e tábuas semirrotas
    de um primeiro piso
    onde encontramos Fernando
    e outras Pessoas...

    Tempo mágico
    que nos lança no
    País das Maravilhas:
    Flagramos Alice
    atarantada
    com o primeiro baseado...
    E (n)ívea dentadura
    revela
    o sorriso
    do gato
    na literatura
    contemporânea.

    Tempo galante
    onde El Cid
    cavalga empertigado
    e enfrenta mouros
    e malícias
    eternizadas
    em cantigas
    de escárnio
    e maldizer.

    Ah! os homens sérios
    atrás dos óculos...

    Drummond tinha bigode?

    Entre nós há um tempo
    de salões e portadas
    machadianos
    enfeitados
    de volutas e
    caras
    angélicas

    Onde se anexam
    mestras bem queridas
    rechonchudas
    cristalizando
    a língua de Keats
    em bolas de sorvetes
    e pipocas.

    (Tempo doce-azedo
    que desmancha prazeres
    e constrói prédios chiques
    onde habitavam os mestres
    e as musas)

    Entre nós rola um tempo
    sem relógio
    nem tics
    marcad
    o por
    frág
    eis
    amp
    ulh
    etas
    que
    desp
    ej
    am
    pes
    so
    as
    e
    po
    e
    t
    a
    s

    ResponderExcluir
  5. Green (!!!!!!????)
    Nosso tempo é sem tempo, sem prazo de validade, sem hora marcada.... Tempo de alices, escadas, El-Cid, brincadeiras em latim,quem se importa com o bigode de Drummond? Fiquei feliz hoje. Quase não quero te encontrar só pra continuar procurando. Godot? Não. Esperando você.

    ResponderExcluir